Crônica por Donato Ramos

Crônica por Donato Ramos

UM PRESENTE PARA OS MEUS AMIGOS: um livrinho inteirinho:

    EU, CRONISTA. Integrante de série que compõe EU, NA PRIMEIRA E TERCEIRAS PESSOAS.
   

 EU, CRONISTA


    A Crônica é um tipo de texto narrativo curto, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc.
    Além de ser um texto curto, possui uma "vida curta", ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos corriqueiros do cotidiano.
    Portanto, elas estão extremamente conectadas ao contexto em que são produzidas, por isso, com o passar do tempo ela perde sua “validade”, ou seja, fica fora do contexto.
    No Brasil, a crônica tornou-se um estilo textual bem difundido desde a publicação dos "Folhetins" em meados do século XIX.
    Alguns escritores brasileiros que se destacaram como cronistas foram: 
    Machado de Assis, Carlos Drummond, de Andrade/Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Caio Fernando Abreu (Google).
    Na Literatura tentei ser poeta, contista, romancista e não fui bem. Onde mais me identifiquei foi com as Crônicas e pequenos comentários sobre acontecimentos do dia a dia. Escrevi durante 33 anos para o Rádio, Jornais e Revistas crônicas diárias e não sei quantas. Não dá pra contar porque muitas se perderam por aí nas cidades de Paraguaçu Paulista, Paranavaí, Curitiba, Itajaí, Blumenau, Rio do Sul, Taió, Ibirama, Florianópolis, São José, pela Internet, sites e blogs...
    Aqui, algumas crônicas e comentários, apenas.
    Centenas de crônicas foram escritas para aquele horário, na Rádio Mirador. Hoje relendo as que foram publicadas em livros, dou destaque a algumas delas neste pequeno relato, integrante da Autobiografia.
    Segundo o professor e crítico literário Antônio Cândido, em seu artigo “A vida ao rés-do-chão” (1980):
    “A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura (...).
    (...) Ora, a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas, sobretudo porque quase sempre utiliza o humor. Isto acontece porque não tem pretensões a durar, uma vez que é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa. Ela não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha.”
 

FOLHAS SOLTAS


    Das andanças de Emissora em Emissora, Rio do Sul em Santa Catarina foi a parada das mais produtivas em se tratando de escrever crônicas, campo que mais me fascinava. Uma palavra, uma cena, um fato qualquer, tudo era tema para uma crônica. Ao meio dia, todos os dias, na Rádio Mirador, o espaço denominado FOLHAS SOLTAS era dos mais concorridos em audiência. Sem televisão, ainda, o Rádio era o senhor da comunicação. O programa transformou-se em livro. FOLHAS SOLTAS é um livro com diversas edições, com muitas crônicas dessa fase do Rádio e está disponível no site especializado em impressão por demanda www.clubedeautores.com.br e, também, no site www.livrorama.com.br

 

A GENTE SE VÊ, MÃE!

 

Lembra daquela estrela que, juntos, a gente via...?
A que mais brilhava, onde um anjo morava, você dizia? Sem medo de vê-la, escute a estrela, sem perguntar por quê.
Eu te amo, mãe querida. Hoje o dia é todo teu!
Obrigado, pela vida, pelo amor que você me deu.
Dia da mãe rica, pobre, simples, da mãe nobre;
da mãe sozinha, como é a minha.
Dia de gente que vem contente, de lugar distante,
na estrela brilhante,
trazendo nos braços sem cansaços...
ou nas asas do vento, voando... seguindo à pé,
levando sorrisos, levando lembranças,
uma lágrima, até.
Mãe que ilumina o mundo! Que vontade de vê-la!
Um amor tão profundo, maior que a minha estrela,
maior que meu abraço na vastidão do espaço.
Que pena, mãe, a distância da minha casa e da tua janela,
daquela flor tão singela, hoje amarelecida:
Todo dia penso nela, na minha e na tua vida.
Estou morando longe, esperando você.
Parti primeiro, mas um dia, na minha estrela,
A gente se vê!

 

COM DOIS T


 

Tenho um amigo. O nome dele é com dois T e pode ser lido de trás pra frente também, sem perder a identidade. 
Acabo de ler um dos seus livros (também tenho amigos que são escritores!). 
É um romance. 
Na vida real tem tantas histórias iguais, que ele tirou a sua da vida real, lógico! 
As histórias estão aí pra quem quiser contar e se tornar escritor dos bons como é o meu amigo dos dois T. 
Ah! Estava dizendo que acabei de ler o seu livro. 
Como tantos homens maduros o seu personagem acabou sendo envolvido por uma mulher bonita. 
Grande coisa, você vai dizer, são tantos os homens que se envolvem com mulher bonita. 
Acontece que o personagem do meu amigo com dois T acaba se dando bem: voltou prá casa. 
É a única maneira de se dar bem – quando a mulher que ficou chorando recebe-o de volta sorrindo. (Lá por dentro ela está dizendo – Bem feito, seu calhorda! Agora volta com o rabinho embaixo das pernas, humilde e mais bondoso do que era. Pode voltar que eu já estava com medo de ter que trabalhar um bom
bocado pra sustentar aquela cambada de filhos que está lá em casa sem fazer nada o dia inteiro, fingindo que estudam). 
Quer aprender como um homem se ferra bonito por um par de pernas lisinhas, sem estrias e perfumadas? 
Leia O SOL HÁ DE BRILHAR. 
É do escritor - meu amigo - com dos T. 
Ele se chama OTTO. Lendo-se ao contrário dá no mesmo. Não disse? 
O sobrenome é muito difícil de pronunciar: Pfützenreuter. 
Mas o romance é fácil de ler. E é uma lição de vida. 
Aliás, de muitas vidas!

 

BILHETINHO PARA MANOELA
BISNETA RECÉM-NASCIDA

 

Oi, Manoela!
O bisavô estava preocupado com a sua demora em chegar, porque já estou de malas prontas para partir pra bem longe, mas pertinho de onde você veio. Segundo alguns astrônomos muito importantes foi da Estrela central da Constelação de Plêiades. Mas isto você só vai entender daqui uns tempinhos. Sei bastante coisas sobre você, mas não foram porque seus pais me disseram não! Mas vamos ao nosso assunto que é a sua chegada e a sua missão por aqui. Acredito que eu vá encontrar sua foto em alguma página das redes sociais na Internet, porque algum amigo da família poderá postar qualquer dia. Mas eu sei porque você veio e como vai cumprir sua missão de Criança Índigo, uma criança das Estrelas. Escrevi um livro sobre esse assunto e deixei um exemplar reservado pra você. Alguém vai lhe entregar, quando você já souber ler. Este bilhetinho, inclusive, vou deixar nas nuvens e quando você dominar a Internet vai tomar conhecimento. Queria tanto que chegasse um dia em que sentados os dois, um ao lado do outro, e eu pudesse falar pra você um pouco do que quis ser na vida e fui, aos trancos e barrancos. Mas não tem importância, porque vou deixar os livros que escrevi e
através deles, você vai saber tudo o que eu poderia hoje te dizer. Agora eu só quero que Deus continue olhando por você e abrindo os caminhos para a sua missão fantástica ao lado de tantos seres que têm chegado à Terra, para orientar o que sobrar desta Humanidade que endoideceu de vez. Você já sabia antes de vir, mas agora vai ver bem de perto o que esta humanidade fez de errado, destruindo o seu próprio habitat.
Das coisas bonitas que tinha na terra, poucas sobraram pra você ver.
As flores, as cascatas, os rios cristalinos, as praias limpas, o mar despoluído você só vai ver nas fotos, filmes e nos meios que homem inventou para registros. Sua missão, dentre muitas coisas, será a de reconstituir tudo isso. Acompanhei de perto toda a destruição e fui incapaz de impedir. Toda a minha geração foi incapaz de ensinar o caminho correto. Mea culpa, sim!
Minha querida Manoela: Como disse, estou de malas prontas e, talvez não veja você nesse meio tempo, mas vou acompanhar os seus passos. Fique atenta, porque vai haver muita discordância sobre você e suas atitudes de acordo com o seu crescimento. Vão querer cuidar de uma tal hiperatividade que inventaram para catalogar o incompreensível. Mas nós dois sabemos, não é mesmo?
Cuide-se bem, ame a vida e a missão que Deus deu a você e às centenas de seres que continuam chegando à Terra, na esperança de salvá-la.
Seu bisavô ama você. 
Até um dia, nas Estrelas!
Outubro/2018 – aos 82 anos.

 

DEUS MANDA A GENTE SONHAR?

 

Sempre acreditei existir uma força superior mostrando os caminhos que a gente deve trilhar, o sonho que se deve sonhar - e perseguir - e que as coisas acontecem no seu tempo e lugar.
Então sonhei: como última realização da minha vida - que está chegando ao seu final - deixar a CASA DA VIDA pronta e transformar a cidade de Águas Mornas, em Santa Catarina, o paraíso turístico da Terceira Idade do Estado. Como Presidente da Associação Catarinense de Idosos procurei meios de levar os Grupos de Idosos organizados aos passeios de um dia e recepcioná-los com muita música, alegria, dança e confraternização e mostrar os magníficos pontos turísticos que Águas Mornas possui. Começamos a desenhar o local: terreno doado em Comodato pela família Silva Santos estava igualzinho ao que se tinha sonhado durante vinte anos. Montanhas de papel impresso, jornais e revistas, livros sobre os idosos, entrevistas em rádio e televisão, maquete caríssima, viagens intermináveis, campanhas pela Internet e, quando estamos no momento de plantar a primeira estaca, tudo se desmorona e todo o investimento é perdido. Totalmente perdido.
Os proprietários do terreno desfazem o acordo do comodato. Não se discute aqui a razão de tal procedimento. Respeita-se a razão. Não se questiona o que já foi gasto. Centenas de Reais, tempo e sonhos sonhados não vêm ao caso no momento.
Fica, apenas, a única coisa que não se pode questionar: o que Deus reserva para os Idosos do meu Estado.
Palpável restou a aposentadoria que o governo já comeu bem mais da metade; sobraram calçadas mal feitas, verdadeiro perigo de vida para o idoso que é obrigado a transitar pelas ruas de cada cidade; postes no meio do caminho dos cadeirantes, dos cegos e aleijados; a falta de remédio nos Postos de Saúde; as filas enormes nos Bancos; a falta da Casa-Dia; inexistência de casas de repouso mantidas pelo governo; asilos fechados; manicômios inexistentes; um Estatuto que não funciona. Queríamos que nos sobrasse, apenas, um local para convivermos em nossos últimos tempos com muita alegria e amizade. Agora, nem isso. Pergunto: Será mesmo que Deus vai nos levar com essa tristeza no coração?

 

Ô, ÊNIO...!

Você é um apressado.
Eu disse pra você: 
Já convoquei o Reis e o Mafra pra gravarmos outro CD no mês que vem.
Daí,você me faz esse papelão:
Resolve dizer que está cansado de esperar! E com planos de ir embora! E o Quarteto Somar, como fica? Vira Trio?
Agora, tá aí, de terno passado, gravata nova, violão desafinado, sem partituras, sem ensaiar, como se soubesse tudo de cor e salteado!
Mas estamos aqui, eu e o Reis – o Mafra não chegou ainda – pra cantar sem você. É uma música que nunca cantamos – “Segure na mão de Deus e vá...”.
Não precisa acompanhar não, fica quieto aí.
Sei que está só descansando um pouco pra recomeçar no outro palco e mostrar o seu valor como um dos maiores violonistas seresteiros que já vimos aqui no Campeche.
Bonita essa sua nova casa... 
Tem flores, muitas flores, muito sossegada, vista para o mar do Campeche.
Olha: as notas musicais estão se juntando do seu lado, ao lado da casa nova!
Desculpe, mas está já quase escurecendo e nós vamos procurar o Mafra.
Fique tranquilo aí. 
Descanse em paz, amigão e companheiro de serestas.
Amanhã, se não viermos, fique sossegado:
Qualquer dia destes, a gente se encontra pra tocar e cantar novamente juntos, como sempre fizemos.
Afine o violão enquanto isso, com calma, até ficar como o diapasão sugere.
Temos que cantar afinados, pra fazer bonito nessa nova casa onde todos os amigos se encontram de novo!
E pode crer, Ênio: 
Vamos ter tempo de sobra!
.................................................................
ÊNIO CORREA. 
Endereço a partir de Agosto de 2015:
Cemitério da Rua da Capela, Campeche, Florianópolis, SC.

 

PRIMÓRDIOS DA COMPREENSÃO

 

A noite estava tenebrosa, com raios e trovão, água por todos os lados, pássaros fazendo o maior barulhão à procura de lugar mais seguro. Uma criança, ali pelos seus seis, sete anos, grudado na saia da irmã; o pai, de olhos esbugalhados não acredita no que via á sua frente. Uma pequena multidão de vizinhos do homem rico, sentados no chão pela falta de acomodação para tanta gente ouvia alguém chorar no tronco onde os pretos eram amarrados pelo homem mau... O vizinho não cobrava nada da gente para que escutássemos, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a novela O direito de nascer. Todas as noites era a mesma coisa, menos no sábado e no domingo porque não tinha novela. O Rádio fascinava.- Um dia vou trabalhar lá. Pouco tempo depois, o garoto Donato já estava com o microfone na mão, no estúdio do Serviço de Alto falantes Cacique, o porta-voz radiofônico da rodoviária de Paraguaçu Paulista. 
Às seis horas dali saía para se dirigir á Rádio Clube Marconi para a leitura que fazia da crônica da Ave Maria. A rotina era uma só: Grupo Escolar, engraxar sapatos na parada dos ônibus, vender doces com tabuleiro pendurado no pescoço na Estação Ferroviária (os trens vinham lotados, com quarenta, cinquenta
vagões cheiinhos de nordestinos vindos para a colheita de café no interior de São Paulo e no Paraná, na região de Londrina e Maringá); garção num Restaurante até duas da tarde e, depois, Professor de datilografia no mesmo prédio da Praça da Matriz. Tempos passados, na cidade de Echaporã, José, seu pai, possuía um salão de barbeiro e os dois viviam sozinhos como Deus talvez quisesse. A mãe, Alice, por motivos que somente a ela pertenciam, havia arrumado as malas fugindo de casa levando consigo Ranulfo, o filho menor e que faleceria um ano depois, conforme fotografia enviada pelo correio com o menininho dentro de um caixão branco. Ficam com o pai, Donato e Benedita. Uma família na luta pela sobrevivência. O mundo começava a bater com força, sem piedade, naquele homem de fibra tanta, que sustentava dois filhos, a mãe. Um irmão, Miguel, ajudando com sua caixa de engraxate no centro do povoado pobre. Miguel era surdo-mudo e aleijado. A vida bate, mas também ajuda a esquecer ou, mesmo, não registrar determinados fatos. A lembrança vai ficando opaca, diz hoje o jornalista, artista plástico, músico, vitorioso em sua longa carreira de 83 anos de vida, tendo dirigido uma dezena de Emissoras de Rádio nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Diz Ivonita Di Concílio, escritora e poeta, “Convidada para ser sua biógrafa, procurei condensar atos e fatos de uma vida incrível, inacreditável, de alguém que luta pensando, única e exclusivamente, na Humanidade, sua redenção e salvação. 
Quem já teve o privilégio de conviver com esse ser humano de grande valia, sabe muito bem do que estou falando e tentando deixar exemplos para a posteridade e para os seus oito filhos, 16 netos e sete bisnetos, lembrando-se do amor que esparramou pelos caminhos andados, nas florestas que plantou, no bem-estar que distribuiu, na ajuda que sempre deu aos amigos e, muitas vezes, aos desconhecidos que o entendiam ou o exploravam”. 
Mas a convidada desistiu. Ia ser muito grande e trabalhoso esse livro.

 

INDÚSTRIA

 

Especialistas dizem que é preciso cuidado redobrado quando uma empresa é administrada por uma ou mais pessoas da mesma família. Santa Catarina possuía empresas tradicionais familiares que desapareceram ou se transformaram em outras. Por que os sistemas de gestão dão certo com os patriarcas e, depois, o filhos e netos põe tudo a perder?
Um fazendeiro milionário levantou-se, certo dia, muito cedo, e dirigiu-se ao celeiro de sua fazenda onde construiu uma forca de madeira. Chamou seu único filho, e lhe disse:
- Um dia eu vou morrer filho. Quero a sua promessa de que, após a minha morte, caso você esbanje os bens que deixei e venha a falir, você virá aqui e tirará honrosamente a sua vida.
Espantado, o filho respondeu:
- Meu pai, acha mesmo que eu perderia tudo o que você me deu? É uma fortuna. Além disso, eu creio ter aprendido como administrar os negócios, mesmo nunca tendo gostado de estudar. Mas tenho certeza! Não vou falir!
Mas o velho insistiu:
- Prometa, meu filho.
Vendo-se sem saída, o rapaz fez a vontade do pai.
O tempo passou, o velho faleceu, o filho tomou posse dos bens e começou a frequentar festas, dormir tarde e a jogar cartas. A coisa foi apertando e o dinheiro começou a sumir.
Após vender tudo, chegou o dia em que ele viu-se na bancarrota. Foi quando se lembrou do velho pai e, em lágrimas de arrependimento, recordou-se da promessa.
Caminhou até o celeiro, subiu os degraus da forca e, já com a corda no pescoço, pronunciou suas últimas palavras:
- O senhor tinha toda razão, meu pai. Eu fui um tolo inconsequente. Perdi tudo o que o senhor levou sua vida para construir. Nada mais me resta senão fazer o que prometi.
Então, ele saltou dos degraus e com o peso de seu corpo a corda se soltou. Na extremidade havia uma caixa amarrada. Perturbado, o rapaz pega a caixa e a abre. Está repleta de brilhantes e muito ouro. Havia também um bilhete de próprio punho do pai, em que se lia:- Filho. Aqui está a sua segunda chance. Seja sábio desta vez. 
Daí, com toda a experiência, caiu na zona até gastar tudo de novo!

 

É DOCE MORRER NO MAR

 

É doce ser envolvido pela quentura da espuma branca e leve...É doce... É doce...
Caymi não escreveu o poema sentindo. Caymi estava bem acomodado na alvura de sua praia predileta, ao lado do seu violão inseparável...
É doce morrer no mar... Sentado na areia quente de um sol de verão. É doce morrer no mar, quando estamos nos deliciando nas pequeníssimas ondas que vêm lembrar carinhos esquecidos ou queridos, insatisfeitos e ternos...
É doce morrer no mar, quando se está sentado na areia da praia e sentindo as espumas que chegam de leve, carinhosamente, lamber-nos os pés descalços e doridos muitas vezes de longa caminhada. Assim, é doce morrer no mar, longe das águas revoltas, longe do desespero, longe da saudade pungente que corta e machuca, longe de tudo e de todos...
É doce morrer no mar quando nada mais se tem a fazer. É doce morrer no mar quando se é livre, quando não se tem obrigações, quando se está em desespero com a própria vida, quando nada mais se quer, além de morrer...
Tornar-se esquecido na imensidão esverdeada de um mundo sem apoio.
É doce morrer no mar quando o mundo nos tenha jogado além de nossas próprias fronteiras...
Mas é amargo morrer no mar, quando se deixa em terra os filhos queridos...
É amargo morrer no mar, entre as ondas revoltas, quando outros corações pulsam em terra, na esperança da volta ao cair da noite, quando o sol se despede de todos os lugares-comuns de diversos e comuns lugares.
É amargo morrer no mar e deixar os filhos à espera, espera angustiante nas horas que vão morrendo...
Na ponta da praia de Itajaí, em Navegantes, os filhos de Sebastião brincam na areia escrevendo o nome papai em letras disformes, mas que representam o apoio, a subsistência da vida, a segurança do dia de hoje e de amanhã.
É amargo morrer no mar assim, sabendo que alguém fica à espera na beira da praia. Assim, não é doce morrer no mar.
O mar está revolto. O mar tem, sobre e sob si, alguém que luta pela vida de muitos.
O mar guarda na sua imensidão sem fim, muitas esperanças, muita saudade e desespero, talvez.
O mar guarda a esperança dos que ficaram em terra.
O mar não sabe que Sebastião ainda não voltou.
O mar pensa ser doce como no poema de Caymi.

 

SEBASTIÃO VOLTOU!
(para James Lenzi)

 

... E Sebastião voltou!
Sebastião voltou.
Há tempos Sebastião não vinha pra casa.
Sebastião ficou de voltar à tardinha e todos ficaram, como sempre, aguardando na Ponta da Praia em Navegantes.
Sebastião estava longe de Itajaí... e nós estávamos com saudade dele.
A saudade era grande porque a família nunca havia ficado tanto tempo longe de Sebastião.
Ele, naturalmente, nesse tempo em que ficou longe, viu muitas coisas...
Fora para o mar ver as sereias que tanto haviam feito Sebastião sonhar.
No meio das ondas turbulentas ele chamou alto a sereia de voz de acalanto... Viu seus recantos prediletos... o reino dos búzios do engodo...
Sebastião voltou!
Mas não contou a história que viveu.
Todos estavam impacientes para que ele contasse o que havia presenciado.
Sebastião trouxe abismos no olhar, isso todos viam. Trouxe as escamas de prata, cintilando...
Sebastião voltou!
Mas não contou nada, cruzou florestas estranhas de astérias, medusas, num leito de ondas...
No lume polar Sebastião viu, naturalmente, os sumidouros nas formas exóticas do paraíso das sereias...
E Sebastião voltou.
Sebastião viu o fascínio do mar, o ríspido açoite das ondas, viu palácio de conchas...
Ondas de arminho, Sebastião viu!
Mas não contou nada.
E nós queríamos que Sebastião contasse.
Sebastião não quis contar o que viu quando saiu para voltar à noitinha.
Havia saído com seus companheiros.
Eles ainda não chegaram, mas Sebastião voltou para contar das ondas de diamantes, da estrela polar, dos palácios reluzentes de sereias, das estrelas do mar, todas cor de prata...
Sebastião voltou, sim.
E Sebastião não contou o que viu.
Sebastião voltou morto.
E todos ficaram decepcionados.

 

ERA UMA VEZ UMA MENINA LOURA
(8.5.78)

 

Ela e um tal de Waldir Pereira moravam no Rio de Janeiro. Um dia, sem mais nem menos, diz à namorada:
- Eu namoro só pra passar o tempo...
Os jovens de hoje, em sua grande maioria, estão longe de alcançar o ideal da verdadeira pureza cristã e dela estão se distanciando cada vez mais, numa corrida sem precedentes. Está existindo um rebaixamento moral das grandes sociedades que ninguém se atreve a explicar. Os psicólogos tentam achar essa explicação e todas as ideias e análises se entrechocam estrepitosamente. Waldir disse a frase com tamanha e cínica displicência que a garota, num desespero de momento, atirou-se da janela do apartamento onde morava com seus pais. A polícia do Rio de Janeiro pensou tratar-se de assassinato. E o que outra coisa não foi, senão de assassinato? Assassínio de um sonho de moça... Assassínio de um ideal cultivado durante cinco longos anos de namoro. As desilusões vão se amontoando nos caminhos dos jovens.
Benedita de Melo, suave poetisa cega, soube descrever ao vivo a desilusão de uma jovem que se viu esquecida por quem lhe fizera as mais veementes juras de amor.
Eis, do seu livro, SOL NAS TREVAS, o soneto HISTÓRIA.
Nos cabelos de sol de uma menina
Jurou ele aquecer-se a vida inteira.
Ela era ainda estudante, pequenina,
Palma nascente de um caudal à beira...

Separam-se. Ela cresce ágil, franzina;
Desiludida na afeição primeira,
Sua alma a nenhum homem se destina.
Ele casou-se. Ela ficou solteira.

Quando um sobrinho pequerrucho e lindo
Hoje lhe pede entre chorando e rindo
“Conte-me uma história, conte aquela...”

Ela repete qual se um conto fora:
“Era uma vez uma menina loura...”
E ninguém sabe que essa história é dela!.

E, semelhante a essa pobre menina loura, existem pelo mundo muitas outras, para as quais a vida, em plena mocidade, já bem poucas alegrias oferece.
Umas se tornam poetisas.
Ou, simplesmente, atiram-se do sexto andar de um edifício de apartamentos...

 

E, ELA, POR SUA VEZ, FICOU ENVERGONHADA!

 

Rio das Flores é uma cidadezinha do Estado do Rio. De repente, virou à besta e passou a ser o centro das atenções de todo o Brasil, devido a um drama que lá ocorreu e que se parece muito à coisa de Shakespeare.
Amor impossível que termina em suicídio. Só que a história de Romeu e Julieta, ao final de contas, é uma história romântica, bonita e que enternece corações...
A história de José e Ana, ao contrário, dá pena na gente, pois é o tipo da história sem nexo, sem lógica, sem pé nem cabeça.
Foi assim: José dos Santos era casado com Margarida Rocha e tinham dois filhos. Era bem empregado, parecia viver feliz com a esposa, quando não se sabe porque cargas d`água, começou a gostar de Ana Rosa, esposa de Arcelino Amorim Severo, primo do Prefeito local.
Ora, José tinha 38 anos e Ana 54. Tipo da mulher que encasqueta e encasquetou: que amava.
Ele achou que Ana era o grande amor de sua vida e aos poucos foi se afastando da família, do emprego, a ponto de passar horas e horas sentado na rua próxima à casa de Ana, olhando-a de longe, para satisfazer seu amor insatisfeito e impossível.
Margarida, um dia, tomou conhecimento do fato e repreendeu o marido, em vão. Este se fez surdo como uma porta e continuou a amar Ana de longe. Até que um dia seu estado mental degringolou.
Com uma dose de corrosivo nas mãos na frente de um amigo boquiaberto ingeriu o veneno e calmamente foi beber água num córrego, nas proximidades do Grupo Escolar Manoel Duarte. Andou, ainda, uns passos e... bumba! Esticou as canelas!.
Sua mulher Margarida, ao saber do fato, ficou desesperada e foi meter a boca em Ana, dizendo ser ela a culpada da morte do marido.
Ana que nada tinha a ver com o peixe, por sua vez ficou envergonhada e como solução também tomou veneno, suicidando-se.
Margarida, então, diante deste segundo suicídio, também tomou veneno. Queimou a língua e foi socorrida a tempo por familiares.
O quarto personagem da tragédia, o Arcelino, marido de Ana, por sua vez, foi tentado pelo Demo e atirou-se na via férrea. Enquanto isso, Melquíades de Souza, simultaneamente, suicidava-se ao saber que a mulher da qual se separara, vivia maritalmente com outro que nada sabia da estória que estamos contando.
Depois de tanta tragédia procurou-se saber porque em Rio das Flores todo o mundo gosta de venenos. É que houvera, há tempos, uma liquidação de formicida e o
povo todo comprou. E, volta e meia, a cidadezinha é motivo para cronistas e escritores passarem o tempo e participarem de algum concurso literário...
E, antes que me esqueça, você quer o endereço...?

 

LENDO OS JORNAIS...


(No Natal, ali pela década de 90, não importando o ano)

Logo na primeira página, do primeiro jornal:
- Sequestrado, empacotado e dopado o bebê...
- Papai Noel é ameaçado de morte pelo próprio sogro, em Salvador.
- Violentou a viúva que cobrava dívida, em Brasília.
Cansei desse; vou para o outro:
- Professor estuprou aluna menor em quarto de motel, em Belém.
- Discutiu com o pai e foi morto a golpe de peixeira.
- Um homem foi dominado, em Laranjeiras e suas calças foram utilizadas para amarrar os seus pés, enquanto sua camisa foi usada para enforcá-lo. Foi encontrado de cuecas no Morro da UVA.
- Um homem com as mãos amarradas com cordinhas de nylon boiava nas águas do Rio Sarapuí, em São Paulo.
- Detento foi torturado por 15 guardas, também em São Paulo.
Chega. Pego outro jornal. Talvez, melhore:
- Fuzilados os dois presos encaminhados à delegacia, em Três Rios.
- Prenderam a empregada e sequestraram garotinho, em Porto Alegre.
- 6 policiais e dois advogados do Grupo Antissequestro foram presos, por participarem de extorsão em sequestro.
- Espancado e morto a tiros, em Queimados.
Sei lá, entende? Largo o jornal e, ao mesmo tempo, acho o início do editorial que estava escrevendo para a Rádio Cidade de Cascavel. Acho que vou rasgar e a Olga Bongiovani ficará sem editorial hoje. Veja só o que estava escrito:
“Hoje o pôr do sol vai ser lindo... E, quando ele chegar, escondido atrás de todo o seu brilho, renascerá de dentro de mim uma nova luz, um novo sorriso, uma nova esperança... As estrelas sorrirão para mim e, dentro dos meus olhos, salpicará algum instante de felicidade...”
Parei para ver o sol se esconder atrás do horizonte conhecido. 
Foi aí que abri o primeiro jornal. E, daí, resolvi parar de escrever e rezar por uma nova conduta social para o meu imenso e tão sofrido país.
Mas, mesmo assim, desejo a vocês o tradicional: BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO!

 

DONATO RAMOS

Donato Ramos é escritor, jornalista, músico, artista plástico. 76 anos neste 2012.

Publicou 94 livros de sua autoria e diversos de amigos através da sua EDITORA SOMAR, em Florianópolis.

Tem por objetivo ajudar os novos escritores na publicação do seu primeiro livro solo ou através das Antologias que produz. O participante não paga nada para publicar, apenas compra quantos livros desejar.

Contato principal: donatoramos@uol.com.br

(48)99858257.

 

Leis, Direitos Autorais e Estruturas Textos.

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    A padronização da referência bibliográfica na produção de textos, apesar de ser fundamental, costuma causar preocupação e dor de cabeça em muitos autores. Não é à toa, afinal, existem formas corretas de formatar cada tipo de referência, como livro, artigo, site de internet, periódicos...

Estrutura de Soneto

Sonetos       Denomina-se soneto um poema de forma fixa, composto por 14 versos, apresentados em 4 estrofes (ou estâncias), sendo 2 quartetos e 2 tercetos. O nome deste gênero lírico é originário do italiano sonetto, que significa “pequena canção”, ou, de forma literal,...

Crônica por Donato Ramos

UM PRESENTE PARA OS MEUS AMIGOS: um livrinho inteirinho:     EU, CRONISTA. Integrante de série que compõe EU, NA PRIMEIRA E TERCEIRAS PESSOAS.      EU, CRONISTA     A Crônica é um tipo de texto narrativo curto, geralmente produzido para meios de...

9 erros que devem ser evitados ao publicar um livro

  Autores de primeira viagem ficam ansiosos e, na pressa de alcançar seus objetivos, podem cometer uma série de erros ao publicar um livro. Para evitar isso, saber o que não deve ser feito, muitas vezes, pode ser mais importante e eficiente do que o contrário. A verdade é que escrever é...

Herdeiros e direito do autor

Foto: Mega Jurídico - www.megajuridico.com/direito-autoral-tem-prazo-de-validade/   Questão tormentosa nos dias de hoje é a administração das obras literárias, artísticas e científicas pelos herdeiros dos artistas, principalmente em relação ao seu uso por terceiros. Para entender...

Estrutura do Conto

          CONTO – História completa e fechada como um ovo. É uma célula dramática, um só conflito, uma só ação. A narrativa passiva de ampliar-se não é conto. Poucas são as personagens em decorrência das unidades de ação, tempo e lugar. Ainda em...

Ministério da Cultura Lei Rouanet

  1. O que é a Lei Rouanet? A Lei Rouanet (Lei 8.313/1991), promulgada durante a gestão do ministro Sérgio Paulo Rouanet, instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC), cuja finalidade é a captação e canalização de recursos para os diversos setores culturais. 2. O que é o PRONAC? O...

O que é ficha Catalográfica?

DESCRIÇÃO: edocbrasil         De acordo com o artigo 6º da Lei 10.753 de 2003, todos os livros publicados no Brasil devem conter a Ficha Catalográfica, ou, CIP (Cataloguing in Publication) – no Brasil Catalogação na Publicação – e deve estar de acordo com o padrão...
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